CADERNOS
do GREI
No presente texto aborda-se a qualidade da parentalidade enquanto fator de resiliência no adolescente e destaca-se a importância do afeto e das práticas educativas. Presume-se ainda que o modo como são percecionadas as atitudes parentais pode contribuir para o desenvolvimento de capacidades resilientes, a fim de propiciar recursos que capacitam no sentido de enfrentar a adversidade.
Se uma imaginação ilimitada quanto ao que poderemos vir a tornar-nos constitui uma herança da idade lúdica, então é ainda mais evidente a boa vontade que o adolescente demonstra, ao depositar a sua confiança nos seus pares e nos mais velhos que o guiam – ou que o ajudam a perder-se – e que fornecerão às suas aspirações um campo de ação imaginário ou mesmo ilusório.
Erik Erikson, in Adolescência e crise
As práticas educativas e o desenvolvimento psicológico dos adolescentes.
Abordar as atitudes parentais e a resiliência na adolescência remete para a necessidade de definir estes conceitos, assim como de estabelecer algumas associações entre eles, de modo a possibilitar uma perspetivação compreensiva da parentalidade, em particular da perceção que o adolescente tem do afeto dos pais, a qual é um fator determinante para identificar as estratégias resilientes.
Inicialmente perspetivada como uma fase de vulnerabilidade relativamente a comportamentos desviantes, a adolescência começou posteriormente a ser vislumbrada como uma etapa marcada por vivências de oportunidades que fortalecem as capacidades dos indivíduos, de modo a possibilitar-lhes reagir e enfrentar as situações mais agressivas e adversas com que se possam deparar ao longo da vida (Lerner, 1983).
As transformações a nível das estruturas familiares, nomeadamente o crescente número de famílias monoparentais ou marcadas pelos divórcios, levaram a que vários estudos incidissem sobre estas realidades, evidenciando as consequências negativas que estes fatores provocam nas relações entre pais e filhos, nas quebras de rendimento escolar e na diminuição de competências sociais. Do mesmo modo, as mudanças biopsicossociais associadas às referidas alterações tornam o adolescente mais vulnerável a evidenciar problemas psicológicos, devido à sua maior exposição a fatores de risco contextuais, no âmbito da família, da escola e da comunidade.